A música passava
muitas vezes nos roufenhos altifalantes da esplanada da piscina Municipal de
Manica, em Moçambique. Em 1970, quando saiu, tinha eu oito anos. L’appuntamento! Cantava Ornela Vanoni.
Naquele dia de Inverno africano aconteceu una cosa strana. Em frente a mim, sentou-se numa mesa contígua,
na esplanada do restaurante, uma menina, talvez da minha idade, cabelos cor-de-Sol, olhos claros azul-celeste. Trocamos olhares. Os nossos pequenos coraçõezinhos
terão estremecido. Digo eu! O meu sacudiu! Lembro-me muito bem.
Nos três dias
seguintes tudo mudou. Sentávamo-nos à mesa, na mesma mesa e nas mesmas cadeiras.
E ficávamos ali, a olhar um para o outro, em silêncio. Por quantos minutos, horas
talvez, não sei. Perdi a vontade de dar mergulhos de
bomba na piscina e o apetite ao frango na púcara, a especialidade da casa. Perdi a noção do tempo. Perdi-me!
Nunca lhe
perguntei o nome nem ela o meu. Não era preciso. Ao quarto dia fiquei sozinho, debruçado naquela
mesa, com uma dor imensa no peito. Não era uma dor de doer. Era uma dor muito strana! Estranha! Nunca mais a
vi! Ficou o nome: Ornela! Foi o nome que lhe dei.