quinta-feira, 20 de abril de 2023

SALTO ou "ir a salto"!

SALTO!

Há muito tempo que ando para escrever este pequeno texto cheio de interrogações. Interrogações, porque elas existem. Portanto e pela minha parte - que não sou historiador! -, certezas não tenho! Pergunto aqui e acolá à procura de respostas. Assim e por agora, aventuro-me nesta suposição/teoria. Se faz algum sentido o que supostamente descobri? Até faz!

Era pequenito e, no meio das conversas na aldeia dos meus avós paternos - não conheci outros -, ouvia muitas vezes que fulano ou beltrano tinham ido a salto para a França. Da minha família, houve alguns que foram "a salto", como o primo direito do meu pai, o Mário "Rino". Também ele usou este método "para se passar" para o outro lado da fronteira, sem paragem por terras de Espanha. Quem fosse apanhado em Espanha, era recambiado! Que remédio não teve o "Rino" senão ir a pé - ou à boleia! - até França! Não era possível a gente muito pobre, sequer pensar ou fazer tudo por via legal, ir de carro, comboio ou o que fosse. Emigrar "com os papéis todos" e durante a ditadura, estava completamente fora de questão. A minha avó dava o exemplo do sobrinho e das dificuldades que teve, inclusive ter atravessado ribeiros com a mulher às costas, a dócil, pequenita e sempre risonha Maria. (Eu adorava o seu arrozinho de tomate com feijão vermelho!)
Todo o cuidado era pouco e a guarda estava sempre à coca! No livro “Cinco dias e cinco noites” de Álvaro Cunhal (Ainda não li o livro mas vi o filme!), há uma passagem por Arco de Baúlhe e as deambulações do homem foragido, que queria passar para o outro lado da fronteira e, do seu “passador” que dava voltas e mais voltas em extensões vastas de mata, à procura de melhor altura, sem perigos, para "saltar" para o outro lado! Alguns desses cinco dias e cinco noites, terão passado, pelo menos, ali por aquelas serras transmontanas! As conversas sobre “ir a salto” e os encontros em dias de nevoeiro cerrado junto às carvalhas, eram frequentes. Eu, ainda miúdo, intrigava-me a questão "ir a salto" e perguntava-me o que era isso de ir aos saltinhos. Sei lá, saltitar mas, porquê? Existe a teoria de saltar de pedra em pedra nos rios que os emigrantes clandestinos atravessavam mas...
As conversas corriam e acabei por descobrir que “ir a salto” era mesmo ir, a Salto, à Vila de Salto, naqueles tempos, uma simples aldeia!
A localidade pertence a Montalegre e faz fronteira com o concelho de Cabeceiras de Basto, embora o centro desta vila minhota esteja a cerca de 16 quilómetros da vila transmontana.
Hoje, vivo por aqui, entre o Minho e Trás-os-Montes e tenho palmilhado estas terras com alguma frequência e garanto, são descobertas que me fazem querer voltar.
Vou a Salto bastas vezes, também porque existe por lá um restaurante, o da Maria (Tem outro nome mas é conhecido pelo restaurante da Maria!), mulher que dizem ter mau feitio – não tenho queixa! - mas de comidinha muito boa! Perguntei pela aldeia onde estavam as “carvalhas” ou a “carvalha” grande de que a minha avó falava e onde, diziam, o povo se encontrava com os “passadores” nesses dias/noites de nevoeiro. Segui as indicações e lá estava o imponente carvalho junto a um cruzeiro! Os outros carvalhos encontram-se mais à frente, nas cercanias da pequenita Vila de Salto! Questionei-me; seriam mesmo aqui os encontros? Há a versão dos "passadores" andarem por ali no adro da Igreja. Tenho dúvidas! Seria demasiado evidente e talvez perigoso. Não sei mas, que eu fui a Salto, lá isso fui!
Também emigrei mas não fui "a salto"! Usei outro estratagema; fui como turista!