A galinha e os
pintos andavam por ali, no campo, à cata de minhoca afoita a meter os “cornos” fora do aconchego da terra húmida.
Naquele tempo, por essas aldeias fora, num país salazarento, poucas eram as
habitações com casa-de-banho dentro de portas. Havia sim, uma casota em
madeira, do lado de fora, com um assento no interior com buraco circular de
palmo, por onde o pessoal largava o incómodo das tripas. Nessas casotas,
normalmente construídas em declives, havia nas partes baixas, uma entrada por
trás, usada para recolha do fertilizante natural para as hortas circundantes.
Alguns
galináceos aventuravam-se por essa abertura. Sabiam que ali, naquele empório de
excreções, andavam lombrigas gigantescas, apetitosas. Muita gente cagava
lombrigas no tempo da ditadura. Não havia dinheiro durante a ditadura. Não se
morria de fome mas morria-se de doença que a fome trazia. O povo comia o que
podia. Fumados mal curados, carne gorda emprenhada por varejas, cascos de
coentrada ou focinho de porco com feijão. Depois, a falta de frigoríficos dava
nisto. Enchiam-se as tripas com parasitas.
Aquele dia
estava soalheiro. A galinha pedrês e os franguinhos implumes esgravatavam no
esterco da casotinha quando lá do alto, pelo buraco do banco, lhes choveu em
cima em jeito de diarreia, uma cagada de proporções gigantescas. Houve
cacarejar de desespero e fuga espavorida da bicheza. Cheias de merda, galinha e
pintos abalaram. Mas, as que fugiram, quedaram-se pelas cercanias. Os humanos
ocorreram ao epicentro de tal alvoroço. Dois ou três pitos ficaram logo ali, atravancados, em morte lenta e pouco
digna.
O autor do
despejo anal, apercebendo-se do desastre, incumbiu a mulher de salvar a
restante prole. A galinha lá se safou sozinha sacudindo a pouca trampa que lhe
cobria a crista. Era ver a pobre mulher do excrementício autor, a mergulhar os
pitinhos, em banho de água morna, muito rapidamente, e retirar-lhe todo
restante cocó com um paninho húmido. Fraca ideia. A maioria morreria de pneumonia.
Os
sobreviventes não escapariam, meses depois, à canja e à cabidela!