sexta-feira, 26 de abril de 2024

O MELRO - UMA HISTÓRIA DE ABRIL

 O MELRO - UMA HISTÓRIA DE ABRIL

Encontrei-o completamente encharcado, tremendo muito de frio. Não se segurava e tombava para os lados, sempre que o tentava pôr de pé! Estava com sintomas de hipotermia! Era fim de tarde e tinha - soube depois! - levado com uma grande "mangueirada" de água. Eu não sabia o que fazer. Já não era a primeira vez que apanhava um melro juvenil, também este, meio atarantado!
Vivia por aqui, em tempos, uma moça dos seus 16 anos, a S., amante de todo o tipo de bicharada e lembrei-me dela. Perguntei-lhe se teria coragem ou vontade de o criar. Disse-me que ia tentar! Alimentou-o e tempos depois já esvoaçava pela casa e respondia a chamamento! Depois foi à vida! Era livre! A miúda também saiu de cá. Foi viver para terras vizinhas!
O "meu" melro, o desta história, não tinha quem tomasse conta dele. Eu não percebo nada destas coisas de como criar a bicheza. Tenho três gatos "selvagens", fora de casa e, apenas me limito a dar-lhe comida que, entretanto, já partilham com dois ouriços que se habituaram a comida de gato.
Levei-o para casa na esperança que ele sobrevivesse. Dentro de uma caixa de papelão, soprei-lhe calor com um secador de cabelo. (É aqui que povão que me conhece, se questionam, para que raio quer o careca, um secador de cabelo? Blhéc ó coisos! É para secar tintas... arte?! Entendeis ou não!?)
Adiante; o passaroco secou e deixou de tremer! - "Ó que carago! Se calhar dei-lhe calor a mais!" - pensei eu! Mas não; estava vivinho! Embrulhei-o numas antigas calças de pijama e lá ficou ele completamente sossegadinho. - "Não me morras pá! Amanhã venho por ti!"
No dia seguinte, abri a garagem e lá estava ele, dentro da caixa, tapada com um acrílico, aos pulos, a tentar evadir-se! Levei-o ao local onde o encontrei no dia anterior, dentro da mesma caixa que supus nunca conseguiria ultrapassar a altura da mesma! Contornei o carro e abri a porta do pendura. O mafarrico já não estava dentro do caixote. Abri as quatro portas do carro, e zás, levanta-se o melro debaixo dos pedais do carro e, abala que se faz tarde! Voou uns trinta metros para se segurar no ramo de um arbusto vizinho. "Olha-me este! Eu a pensar que o gajito não conseguia voar!" - pensei eu com um sorriso e alívio na alma! A sério; não tenho queda para criar bichos!
O melro voltou a bater asas e vi-o desparecer por ali fora! Voltei a sorrir com a coincidência da data: 25 de Abril de 2024, cinquenta anos depois da Revolução dos Cravos! A Liberdade senhores, a liberdade!

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